RESUMO: As doenças bucais são limitantes para as práticas de saúde, bem-estar e conservação, especialmente no caso de animais ameaçados de extinção. Neste estudo retrospectivo, realizou-se um levantamento sobre condições relacionadas à saúde bucal observadas nos registros clínicos de 261 cervídeos que compunham uma população ex situ do Centro de Conservação do Cervo-do-Pantanal durante um período de 30 anos (1990-2020). Destes, 49 (18,77%) cervos-do-pantanal (31 fêmeas (63,27%) e 18 machos (36,73%)) apresentavam afecções clínicas bucais; e a idade média dos cervídeos afetados foi de 8,9 anos. Realizou-se a análise de regressão logística e a variável idade mostrou associação significativa com a presença de afecções dentárias. Assim, com a mudança de categoria de idade, um cervídeo teve oito vezes mais chances de manifestar afecções bucais; portanto, a idade pode ser considerada como fator de risco para manifestação de afecções bucais na espécie. Aumento de volume facial (65,3%), acúmulo de alimentos na boca (36,7%), perda dentária (22,4%), fístulas (22,4%), lesões nas mucosas ou palatinas (22,4%), desgaste dentário (20,4%) e exposição de raiz (18,3%) foram as lesões mais registradas. A ocorrência relativamente alta de afecções bucais em Blastocerus dichotomus reitera a importância dos cuidados com a saúde bucal quando os cervídeos são mantidos sob cuidados humanos.
ABSTRACT: Oral diseases are limiting to health, welfare, and conservation practices, especially in the case of endangered animals. In this retrospective study, a survey on oral health-related conditions noted in the clinical records for 261 deer comprised in an ex situ population of the Marsh Deer Conservation Center (CCCP) over 30 years (1990-2020) was carried out. Of these, 49 (18.77%) marsh deer (31 females - 63.27% and 18 males - 36.73%) had clinical oral affections; the affected deer’s mean age was 8.9 years. Logistic regression analysis was performed, and the variable age was significantly associated with the presence of dental affections. Thus, with a change in the age category, a deer had eight times the chance of manifesting oral affections; therefore, age can be considered a risk factor for the manifestation of oral affections in the species. Increased facial volume (65.3%), accumulation of food in the mouth (36.7%), tooth loss (22.4%), fistulas (22.4%), mucosal or palatal lesions (22.4%), tooth wear (20.4%), and tooth root exposure (18.3%) were the most frequently recorded lesions. The relatively high occurrence of oral affections in Blastocerus dichotomus reiterates the importance of oral health care when deer are kept in human care.